Alerta: pandemia faz com que pacientes de outras doenças graves abandonem tratamentos

Forte queda no número de consultas e exames coloca em risco a vida de pacientes com doenças como câncer, asma e enfisema; com receio de contaminação por covid-19, pessoas evitam ambientes hospitalares e consultórios

Campinas, 6 de julho de 2020 – A pandemia do covid-19, além do grande volume de contaminações e dos quase 60.000 mortos no Brasil, está provocando outro grave efeito na saúde das pessoas.

Estudos indicam que ela provocou uma queda preocupante no número de consultas, exames e cirurgias em pacientes portadores de outras doenças, muitas delas graves, como câncer, enfisema e asma.

Um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e pela Sociedade Brasileira de Patologia, por exemplo, mostrou que houve uma redução de até 90% nos exames que deveriam ser oferecidos pelos hospitais a pacientes oncológicos, gestantes e doentes crônicos.

Outro levantamento, realizado pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, indicou uma diminuição de 50% nas angioplastias primárias em março e de 70% em abril, na comparação com o mesmo período do ano passado.

O fato é atribuído, entre outras causas, ao próprio isolamento social e ao receio de contaminação em ambientes hospitalares e em consultórios.

“É uma situação preocupante, com graves consequências”, alerta o pneumologista Ronaldo Macedo, que trabalha no Hospital de Clínicas da Unicamp e no Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP) e constata essa realidade no dia a dia, principalmente em relação aos portadores de doenças crônicas.

“Se um paciente com asma ou enfisema entrar em crise e não for tratado, ele corre até risco de morte. É uma questão séria, pois ele não pode deixar de fazer o acompanhamento.

Nos hospitais em que trabalho percebo que houve uma queda importante nos atendimentos, de pelo menos 40%”, afirma o especialista, que coordena o Ambulatório de Doenças Pulmonares Difusas/Intersticiais do HC da Unicamp.

Ronaldo Macedo lembra ainda que o inverno que se inicia é o período em que as doenças pulmonares se agravam, o que requer atenção redobrada:

“É nessa época mais fria e seca que o paciente crônico corre maior perigo de descompensação, ou seja, de ocorrência de um evento crítico que requer atendimento imediato. Casos como os de fibrose pulmonar precisam ser seguidos de perto”.

Outro problema provocado pela falta de acompanhamento constante é a dificuldade em se fazer o diagnóstico precoce de doenças como o câncer de pulmão.

“Às vezes a pessoa tem perda de peso e não procura o médico, achando que não é nada sério, mas pode estar desenvolvendo um tumor que poderia ser diagnosticado a tempo”, explica o especialista.

É importante que os pacientes crônicos não deixem de seguir as rotinas médicas e o tratamento adequado e que os sistemas de saúde mantenham o mesmo padrão de atendimento a outras doenças, além da covid-19”, acrescenta o médico.

Sobre o Dr. Ronaldo Macedo

Ronaldo Macedo é pneumologista formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, tendo participado como Observer Fellow no Serviço de Transplante Pulmonar no Toronto General Hospital, no Canadá.

Trabalha há quase 10 anos no Hospital de Clínicas da Unicamp, onde é coordenador do Ambulatório de Doenças Pulmonares Difusas /Intersticiais (ambulatório de referência na Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), e no Hospital Vera Cruz / Campinas. É também professor da disciplina de Emergências Respiratórias na pós-graduação de Medicina de Emergência do Instituto Terzius. Para saber mais sobre o especialista, visite https://drronaldomacedo.com.br/