Câncer, uma Doença Crônica Não-transmissível (DCNT) com números alarmantes no Brasil, sofre impacto da pandemia
Pandemia dificulta acesso ao diagnóstico e do tratamento do câncer no Brasil
Por suas características não infecciosas, condicionantes sociais, econômicos e ambientais, entre outros fatores, o câncer é considerado uma Doença Crônica Não-Transmissível (DCNT). Com a pandemia da Covid-19, a dificuldade em acessar o sistema de saúde levou a uma redução nas taxas de diagnóstico e tratamento das DCNTs, preocupando especialistas em câncer no Brasil.
Fundador e coordenador do Fórum Intersetorial para Combate às DCNTs no Brasil, Mark Barone explica que fatores de risco, como alimentação inadequada, tabagismo, uso abusivo de álcool, sedentarismo e poluição do ar, são fatores de risco em comum para o desenvolvimento e agravamento de diversas DCNTs, incluindo o câncer.
Marilia Albiero, da organização não-governamental ACT, detalha que mais de 33% das mortes por câncer são em decorrência de fatores de risco. “Temos, por exemplo, que o câncer de pulmão, primeiro no número de mortes, é decorrente ao tabagismo e o câncer colorretal, segundo no número de mortes, tem relação direta com o tabagismo, a obesidade, a inatividade física, o abuso de álcool e a falta de cuidado com a alimentação”.
“Além disso, algumas das pessoas com outras DCNTs como diabetes e obesidade têm risco maior a desenvolver alguns tipos de câncer”, diz Barone, que ainda complementa que quase 76% das mortes no Brasil são causadas por DCNTs e o câncer representa quase 19% desse total, atrás apenas das doenças cardiovasculares (cerca de 28%).
Pandemia – A Covid-19 impactou severamente os serviços de rastreio, diagnóstico e tratamento do câncer. Segundo dados da aliança Todos Juntos Contra o Câncer, um em cada quatro pacientes em tratamento contra o câncer ainda sofre os impactos da crise sanitária no Brasil. Somente o câncer de mama teve uma queda de quase 49% no número de atendimentos entre 2019 e 2021, segundo dados do INCA.
Entre os pontos apresentados por Nayara Landim da Todos Juntos Contra o Câncer, para mitigar o impacto da pandemia na área oncológica, estão: aumentar a capacidade de diagnóstico e tratamento, por exemplo, com estratégias de mutirões; incorporar novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que há defasagem importante nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs); e aumentar o acesso ao atendimento à distância que permitam, entre outras possibilidades, realizar consultas.
Custos – Somente em 2020, ano em que a pandemia começou, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou que aconteceriam 552 mil novos casos de câncer no Brasil. Ainda, Barone conta que o câncer apresenta uma tendência de aumento no número de mortes prematuras, podendo ultrapassar as mortes prematuras por doenças cardiovasculares nos próximos anos. Assim, são necessárias atualizações imediatas em estratégias, políticas e programas de saúde para diagnóstico e tratamento do câncer no país.
Apenas em 2015, o INCA informa que foram investidos R$ 3,3 bilhões com o tratamento oncológico no SUS e a tendência é a necessidade de crescimento nesse custo, em especial se não for investido em políticas preventivas.
Marilia Albiero compartilha dados da ACT que revelam que, anualmente, quase R$ 93 bilhões são os custos dos danos produzidos pelo cigarro na saúde e na economia. Desse total, mais de R$ 58 bilhões referem-se aos custos diretos do SUS, o restante à perda de produtividade no trabalho.
“A tendência é que aconteça um gasto maior com o tratamento do câncer já em estágios mais avançados em 2022, em razão do represamento dos pacientes não diagnosticados precocemente durante esse período da pandemia. Nesse sentido, devemos ampliar e acelerar ações de prevenção, diagnóstico e tratamento para controle e combate ao câncer no Brasil.”, conclui Barone.